sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Nem sei se o Marco continua aqui, mas vou lançar um texto mesmo assim.

Sim, é isso o que eu quero.
Mesmo que eu tente negar, que eu tente me inserir.
A realidade já não me é mais tão real - se é que alguma vez já foi, não lembro.
Qualquer noção pré-concebida, concebida e pós-concebida já causa uma fissura na minha alma (para usar de uma noção já conhecida).
Sei que isso parece radical, mas é muito simples.
Não consigo acreditar em mais nada - muito menos em mim mesmo. Não consigo sentir mais nada, além da dor física, que por enquanto segura-se firme como a única que causa um impacto digno de se tomar nota.
Não, não sou um masoquista, mesmo porque o masoquista sente prazer na dor, e eu não, eu a abomino, a temo. Temeridade, medo, susto. Se eu não sinto nada, como posso usar a palavra medo? Medo é um sentimento? quem criou isso? quem expressou essa ideia com esse conjunto de símbolos a que chamamos de letra?
é um crime literário escrever um texto só com dúvidas? O que é ter dúvida? O que é literatura? O que é crime?
Como disse, é simples: Não sei. Não faço a mínima ideia. Mas preciso fazer? preciso saber?
Acredito que sim. Acho que gostaria de saber. Mas não sei. Não sei se gostaria de saber, não sei algum dia saberei. Não sei se algum dia saberei se gostaria de saber.
Isso faz sentido para você? O que é sentido?
Ok, vou parar com isso agora.
Não quero te aborrecer. Você não precisa disso.
Mas do que voce precisa? Você sabe?
Ok ok…agora parei, desculpe. Eu só tava fazendo uma piadinha.
Você riu?
Espero que sim. Espero mesmo. Eu gosto de fazer as pessoas rirem. Menos pelas pessoas e mais por mim mesmo, por me sentir útil.
Fazer alguém rir é saber que você teve algum impacto nessa pessoa, mesmo que mínima. Mas vale se eu não souber se você riu de fato?
E eu não quero chegar tão longe com isso - não agora - só estou dizendo que se eu não vejo você rindo não consigo fazer essa relação de utilidade. E assim não me sinto bem.
E voltamos ao sentimento.
Só nesse texto eu já me contradisse em ao menos três oportunidades - não vou ficar contando, tenho mais o que fazer. Mas isso não me preocupa. A contradição é a única forma que eu encontrei para conseguir viver nesse mundo.
É na contradição que eu existo, é nela que caminho. É em suas vagas águas que eu navego, flutuando por suas marés, ora baixas ora altas - mesmo não tendo ideia do que significa a palavra contradição.
Acho que na verdade, estou tentando explicar, justificar o porquê da superficialidade que eu deixo escapar da minha personalidade.
Me considero vazio - ou quase vazio (meio vazio, para ser pessimista).
Não consigo gostar de nada. Nada me impacta.
Acho que não gosto de várias coisas, mas não sei explicar o porquê disso. Simplesmente é algo que vem de dentro. Sentimento. É isso?
vou voltar um pouco e perguntar: O que é sentimento?
Não falo isso de chacota. Gostaria mesmo de saber, pois posso estar sentindo mil coisas e nem perceber.
E esse pode ser meu maior problema: A percepção.
Você pode falar: - Seu idiota, você está sentindo tudo isso, tudo o que você falou aqui é sentimentos seus sobre o sentimento.
Mas eu posso responder, ainda te irritando: - Como você pode saber que eu estou sentindo? Você nem sabe se as suas noções de sentimento são as mesmas que a minha. Só o que você sabe é o que se passa com você. Tudo o que você viu, ouviu, leu, provou, tudo o que você tocou, lambeu, beijou, cuspiu, tudo o que você riu, chorou, engasgou, engoliu, tudo o que se passou com você nessa vida, todas as suas experiência, foi algo único, foi algo para você.
Como eu posso ter certeza de que eu tive as mesmas experiências? E não estou falando das experiências literais, e sim as experiências interiores. Tudo faz diferença. Não tem como saber se algo é remotamente similar ao que se passou dentro da sua cabeça.
Você pode argumentar que muitos escreveram isso, que muitos pintaram, esculpiram, filmaram, e que você se identificou.
Mas eu rebato o argumento quando digo que a linguagem foi algo inventada por alguém - mesmo que tenha sido essencial para um conjunto de indivíduos, no caso os seres humanos. Foi algo inventando e espalhado, ensinado, praticamente inserido em nós mesmos desde que nascemos.
Toda nossa noção de sentimento é algo enlatado. Tudo o que sentimos, somos condicionados a relacionar com as noções pré-existentes.
Me parece fácil apontar o dedo e dizer: "você está sentindo sim…isso o que você está sentindo eu também senti". Pura mentira. Puro engano. Pura ingenuidade.
A única verdade é que não existem verdades. Ninguém sabe de nada. Tudo pode ser falso, assim como verdadeiro. E é essa contradição que me mata aos poucos, mas que me permite viver, pois se ninguém sabe de nada, então finalmente posso me sentir incluído.
Sim, me sinto excluído. Não de grupos específicos e panelinhas, mas sim da vida.
A vida me parece um jogo de realidade aumentada. Um jogo que é impossível sair dele - a não ser quando durmo e sonho (mais como um pause). E esse jogo, amigos, é um jogo que eu não tenho ideia de como jogar.
Claro, sei os comandos básicos; sei me comportar, sei falar, ouvir, entender, caminhar, respirar - mesmo que metade desses sejam automáticos, uma espécie de "ajuda" do jogo.
Mas não consigo jogar. Não consigo passar do básico.
É como andar no mundo aberto de GTA, por exemplo. Só andar, ver, passar pelas pessoas, se relacionar com elas minimamente e depois continuar, como se isso sequer fizesse alguma diferença. No caso do GTA normalmente isso significa bater em prostituas e atropelar uns caras na calçada, mas na vida esses excessos não são permitidos - e como você nunca pode sair desse jogo, pode se dar muito mal por isso.
Me falta o knowhow, as artimanhas, os comandos mais elaborados, os "combos". Tudo o que torna um jogador num bom jogador. Me falta o conhecimento para completar as "missões". Missões essas que parece que é o objetivo do jogo, segundo o senso comum. Esse mesmo senso comum que tenta me dizer o que eu estou sentindo tenta me ditar o que devo fazer da vida - mesmo quando a ordem é se divertir. Fica sempre latejando, como no canto da tela, a indicação do que fazer em seguida. Mas tudo o que eu quero fazer é observar, passear, ignorar, sei lá. E essas "missões" não constam nesse jogo. Eu preciso, PRECISO, ter um emprego, ter uma mulher, um filho, preciso me alimentar, preciso contribuir com algo para o mundo, preciso cortar minhas unhas, preciso usar roupas, preciso ter um lugar para morar, preciso pagar o aluguel desse lugar, preciso até comprar meu túmulo no cemitério.
Mas por que eu preciso fazer alguma coisa?
Por que tudo isso me é imposto?
Eu não escolhi nascer. Muito menos nascer nesse corpo, nessa cabeça que não para de pensar em tudo o tempo inteiro, a cada passo que eu dou, a cada ação que eu faça. Simplesmente estou preso nesse jogo, no melhor estilo Tron.
E mesmo sendo tão perfeito graficamente - algo maior que o full hd, veja você! - ele não consegue me gerar a imersão necessária para aproveitai-lo. Fosse no videogame, eu diria que o jogo é lindo, os personagens são muito interessantes, a construção é impecável, mas é chato. Não há liberdade - além de ser muito difícil (pelo menos pra mim). Gostaria de tentar jogar com outro personagem, pode ser qualquer ser humano, pode ser um passarinho, pode ser um lobo, sei lá, qualquer coisa. Gostaria de poder escolher.
Mas em todo caso, peço desculpas por esse enorme desabafo, por essa caoticidade literária, por essa pobreza verbal. Na verdade, um texto que só contém incertezas não faz o mínimo sentido de ser lido, não tem nada novo a inaugurar, nenhuma ideia a ser exposta, a não ser essa que eu disse, que tudo pode ser tudo, que tudo pode ser nada, que nada pode ser nada, que nada pode ser tudo. Então entenda esse texto como quiser, pois nunca vai entendê-lo como eu, e mesmo que entendesse, para você faria um sentido só seu. Ninguém tem a obrigação de curtir nada disso, nem mesmo ler - ninguém tem a obrigação de nada, a não ser viver, que me parece que todos estamos fadados a isso. Dividimos pelo menos isso de concreto. Vivemos num mesmo mundo, falso ou não.
Dito isso, vou lançar minha última contradição, a maior de todas, só para encerrar. Eu simplesmente adoro a vida. Claro, fico triste de não conseguir aproveitar dela o tanto quanto poderia, mas só de poder estar aqui, de observar tudo isso, de acompanhar a humanidade nessa épica história - e porque não, fazer parte disso, mesmo que infimamente - já fico enormemente satisfeito.
Sentimento.
E o que é sentimento?

Foda-se, isso sim.

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